Charlie foi abusado sexualmente por Tia Helen em “As Vantagens de ser Invisível”

Apesar de determinada parte do público alegar não ter dúvidas quanto ao fato da Tia Helen ter abusado sexualmente de seu sobrinho Charlie em “As Vantagens de ser Invisível“, outra parte parece se surpreender ao saber da informação, alegando nunca ter notado os sinais nas cenas do livro e do filme que induzem o telespectador a pensar isso.

Diante da dúvida de muitos fãs da história, resolvemos analisar algumas cenas do filme, focando em seu roteiro, a fim de explicar/mostrar para aqueles que ainda não entenderam que sim, infelizmente, Charlie foi abusado sexualmente por tia Helen.

As primeiras cenas do filme já buscam mostrar que Charlie é uma pessoa muito solitária. O garoto costuma enviar cartas para alguém anônimo (pelo menos para o público), compartilhando como foi seus dias. Isso acontece porque até ele conhecer Sam e Patrick, Charlie não tinha um amigo com quem pudesse compartilhar suas histórias. Mais adiante, numa cena em que ele conversa com Sam, ele revela que seu melhor amigo se matou há alguns meses. Isso só mostra que Charlie é um adolescente sem amigos, ou seja, que tem dificuldade em interagir socialmente. E aqui está o primeiro indício de que algo no passado de Charlie havia lhe imposto essas limitações. Quando alguém é abusado sexualmente, essa pessoa tem mais dificuldade em confiar em outras pessoas, não conseguindo criar vínculos sociais.

Durante o filme, vários flashbacks de Charlie com Tia Helen são apresentados. Através deles, o filme busca deixar claro que Tia Helen era a pessoa da família mais próxima de Charlie, e que ambos tinham um carinho muito especial um pelo outro. Em alguns desses flashbacks, é possível ouvir a mulher falando para o sobrinho: “Será nosso segredinho”. A princípio, as cenas parecem remeter a situações cotidianas, como o fato da tia Helen permitir que Charlie assista TV até um horário mais tarde do que o estipulado por seus pais. Entretanto, no fim do filme, quando o abuso sexual fica mais evidente para o público, nota-se que não era isso que a frase significava.

Em um momento a sós no quarto de Sam, ela e Charlie começam a se beijar, e Sam passa a mão sobre as pernas de Charlie. Imediatamente, Charlie fica nitidamente desconfortável ao ter algumas lembranças, e flashbacks nos mostram que Charlie já havia passado por momentos assim anteriormente. Na sequência, o rosto de Tia Helen é mostrado, e enquanto acaricia a perna de Charlie, ela diz: “Não acorde sua irmã”.

Na cena em que Patrick e Sam partem para outra cidade a fim de iniciarem suas vidas acadêmicas, Charlie, sozinho em casa, começa a ter uma crise de ansiedade. Ele liga para Candace, sua irmã, e pergunta: “Eu matei tia Helen, não foi?”. Ele questiona isso porque sua tia morreu enquanto ia buscar um presente de Natal para ele, o que fez com que Charlie se sentisse culpado pela morte dela. Desesperada, a irmã nega e chama a polícia para a casa onde o irmão está. Entretanto, o garoto surpreende ao falar: “E se eu quisesse que ela morresse?”. A cena mostra que Charlie, apesar do carinho que sentia por sua tia, passou a entender, à medida que foi crescendo, que o que ela fazia com ele era errado. Quando criança, Charlie não conseguia discernir e não via nada de infame nos momentos em que era abusado. Agora, com 16 anos, ele consegue entender que foi vítima de abuso sexual. Por muito tempo, Charlie se culpou pela morte da tia. Hoje, ele se culpa por querer que ela morresse.

Adiante, Charlie acorda num hospital. Em diálogo com Charlie, a psicóloga revela que ele falou algumas coisas sobre tia Helen enquanto dormia e pede ao garoto que comente sobre. Charlie então diz: “Ela era doente, na minha opinião”. O diálogo só reafirma que havia algo de errado com tia Helen, e Charlie a vê-la como alguém doente só reflete como ele mudou sua perspectiva e finalmente entendeu o que acontecia com ele.

Na sequência, a psicóloga aparece conversando com os pais de Charlie. A voz de Charlie narra o momento, dizendo: “O pior dia foi quando a psicóloga disse aos meus pais o que a tia Helen fazia comigo”. É possível notar uma reação de choque dos pais, incrédulos por só terem descoberto sobre os abusos agora.

Portanto, fica evidente que a famosa frase “Será nosso segredinho” não remetia somente a situações cotidianas e ao presente que tia Helen iria buscar para Charlie, mas também sobre os abusos que ela direcionava ao sobrinho, pedindo que ele não contasse sobre para qualquer outra pessoa. A dificuldade de muita gente em perceber que o personagem era abusado sexualmente só reflete como a sociedade ainda é falha em reconhecer os sinais de vítimas de agressões sexuais.