A Netflix continua apostando e apostando alto em produções nacionais. Tendo encerrado 3% no último ano, Cidade Invisível, criada por Carlos Saldanha, deve ser a próxima grande aposta nacional do streaming.
Cidade Invisível traz Marco Pigossi como um detetive da polícia atormentado e traumatizado pelas investigações do assassinato de sua esposa. Quanto mais a fundo ele vai, mais se envolve com o mundo oculto habitado por criaturas folclóricas, em eventos mais obscuros e questionando sua própria identidade.
Qual criança nunca ouviu a aterrorizante canção de ninar da Cuca? Ouviu as histórias do menino travesso de gorro vermelho com uma perna só ou daquele com cabeça de fogo e com os pés virados para trás? Há muitos anos, essas histórias acabaram sendo subvertidas por Sítio do Pica-pau Amarelo que adaptou essas lendas de forma mais divertida e colorida, salvando as crianças de muitos pesadelos. Eis que a Netflix retorna com esse tom obscuro presente nas lendas folclóricas, adaptando-os para os tempos atuais enquanto vivem mesclados à civilização.
O desenvolvimento da história, por mais que seja focada no núcleo do policial Eric e seus dramas, acaba deslizando um pouco ao não apresentar com profundidade as criaturas folclóricas, que por mais que seja de conhecimento geral algumas informações, elas deveriam ser mostradas na tela. Mas ainda assim, a série consegue desenvolver muito bem o que ela pretende e em poucos episódios criar uma trama envolvente.
Toda a ambientação da história no Rio de Janeiro, como também as partes mais fantásticas, são dignas de uma grande produção e um dos grandes pontos da série. Contudo, uma das maiores falhas da série e que vem sendo criticado por quem assiste é a falta de contextualização da ambientação. Como e por qual motivo criaturas folclóricas de todo o país foram parar justamente no Rio de Janeiro? Porém é algo fácil de ser contornado em uma futura temporada — e esperamos que seja.
Um dos grandes medos do público, mesmo que não se tenha motivo para tal, é das atuações em produções nacionais. Cidade Invisível não tem problema nenhum quando a isso, pelo contrário, a série traz um elenco com diversas estrelas globais, como Pigossi, que consegue dosar bem a confusão de seu personagem diante de todos os acontecimentos e se posicionar como o herói que a trama necessita e Alessandra Negrini que, através de um trabalho mais contido, consegue passar o terror de sua personagem trabalhando apenas com seu tom de voz. Além de nomes menores, mas que dão conta do papel que lhe foram dados, com destaque para Jessica Cores como Iara, Fábio Lago como Curupira e Wesley Guimarães como Saci.
Por trás de todo o drama, a série faz uma crítica à própria sociedade com a preservação da cultura nacional e a marginalização que elas sofrem. A produção eleva a grandiosidade dos elementos nacionais e que mesmo utilizando de conceitos hollywoodianos, faz jus a tudo que o Brasil representa e que não perde em nada para produções internacionais. É um lembrete ao próprio brasileiro de quão rica sua própria cultura é, merecendo sempre ser lembrada e celebrada.