No livro “Simplesmente Acontece”, Alex e Rosie demoram 50 anos para ficarem juntos

Imagens de Alex e Rosie no filme Simplesmente Acontece.

No próximo mês, a comédia romântica “Simplesmente Acontece” completará 9 anos desde seu lançamento oficial nos EUA, que aconteceu em outubro de 2014. Apesar de não ser um grande sucesso entre a crítica especializada, o filme conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo, sendo considerado até hoje um dos queridinhos do gênero entre as produções lançadas na década passada.

Divertido, engraçado e às vezes excessivamente dramático, o filme conta a história de Rosie (Lily Collins) e Alex (Sam Claflin), dois amigos inseparáveis desde a infância que crescem juntos e compartilham um com o outro as dificuldades amorosas de seus respectivos relacionamentos. Embora exista uma atração notável entre eles, os dois optam por manter a amizade acima de tudo e recuam quando o assunto é revelar os sentimentos românticos pelo outro.

É somente após muitas idas, vindas, mudanças e relacionamentos fracassados que Alex parece finalmente estar pronto para reconhecer o que sente pela amiga. Ele, então, externaliza todo seu amor em uma carta, que o acaso entrega nas mãos do atual namorado de Rosie. Ele, que nunca foi muito fã de Alex, resolve esconder a correspondência em uma cômoda, impossibilitando que Rosie tivesse acesso à carta. Muito tempo depois, enquanto organizava uma mudança, Rosie encontra a carta que lhe foi enviada meses (ou anos) atrás. Entusiasmada, Rosie imediatamente faz uma vídeochamada com Alex, mas descobre que ele está comprometido e prestes a se casar.

Reconhecendo que demorou tempo demais para ler a famigerada carta, Rosie baixa a guarda e aceita que perdeu Alex de vez. Ela até cogita se declarar para o amigo no dia do casamento dele, mas decide seguir adiante e, apesar de ir à cerimônia, não revela explicitamente seus sentimentos pelo rapaz, se limitando a ler um lindo monólogo que revela seu carinho pela pessoa que a acompanhou em todas as fases de sua vida.

Após mais esse desencontro, anos se passam até que Rosie finalmente vira uma empreendedora e abre seu próprio hotel, um sonho de longa data que veio a se concretizar. Ela é surpreendida com a chegada de um hóspede que é ninguém menos que Alex, agora divorciado. Livres de quaisquer compromissos com outras pessoas, mais maduros e prontos para admitirem o que sentem um pelo outro, Rosie e Alex finalmente iniciam um relacionamento romântico que poderia ter começado lá atrás — mas que foi interrompido pelos acasos da vida.

E se você é um daqueles espectadores que se incomodou com a demora para o casal ficar junto, a dica de hoje é: passe longe do livro. Na obra escrita por Cecelia Ahern, Alex e Rosie demoram nada mais nada menos que 50 anos para ficarem juntos. Sim, é mais ou menos o dobro da idade que os personagens tinham no filme quando se reencontram nas cenas finais.

Para aqueles que não leram o livro e certamente não o lerão após essa informação, nós separamos os trechos dos capítulos finais que destacam o momento em que Alex e Rosie finalmente se declaram um para o outro. É importante destacar que Rosie nunca chegou a ler a primeira carta enviada por Alex, aquela que foi cruelmente escondida por seu namorado.

No livro, Katie, filha de Rosie e afilhada de Alex, manda mensagens para o padrinho para contar que reencontrou com seu melhor amigo do tempo de escola. Ela diz que eles vão sair para jantar e Alex questiona se será um encontro romântico, mas Katie nega, afirmando que ela não pode namorar ao cara que um dia já foi seu melhor amigo.

Dias depois, Katie manda uma nova mensagem para Alex contando que ela e Toby se beijaram durante o encontro e destacando a importância dos conselhos de sua mãe.

“Minha mãe estava certa, Alex! É possível se apaixonar pelo seu melhor amigo! Fiz as malas e resolvi voltar para Dublin com o coração cheio de amor e esperança, e a cabeça cheia de sonhos! Minha mãe falou sobre a vez que ela percebeu o silêncio, há vários anos. Ela sempre me disse que, quando eu sentisse esse silêncio com alguém, era um sinal de que aquela pessoa seria aquela que ficaria comigo pelo resto da vida. Eu estava começando a achar que ela tinha inventado isso aí, mas não! O silêncio mágico existe!”.

Nesse momento, Alex lembra que já mencionou esse mesmo “silêncio” em conversa com um amigo no passado. Entusiasmado, ele manda mensagem para esse amiga, que o aconselha a falar com Rosie.

Alex: Ela sentiu o silêncio também.
Phil: Quem? Quando? Onde? Como?
Alex: Rosie. Ela também sentiu o silêncio, há tantos anos.
Phil: Ah, aquele temido silêncio voltou para nos assombrar, não foi? Faz anos que não ouço você tocar no assunto.
Alex: Eu sabia que aquilo não era coisa da minha cabeça, Phil!
Phil: Bem, então, por que você está falando disso para mim? Saia da internet, seu imbecil, e pegue o telefone. Ou a caneta.


Alex fez logoff

Imediatamente, Alex escreveu uma nova carta para Rosie. É importante lembrar que ela nunca teve acesso à primeira carta escrita pelo amigo, aquela que fora escondida pelo namorado de Rosie.

“Minha querida Rosie,

Sem que você soubesse, eu resolvi arriscar e aproveitar a oportunidade há muitos e muitos anos. Você nunca chegou a receber aquela carta, e eu fico feliz por isso, porque os meus sentimentos mudaram radicalmente. Eles se intensificaram com cada dia que passou. Vou direto ao ponto porque, se eu não disser o que tenho a dizer agora, receio que nunca seja dito. E eu preciso dizer. Hoje eu amo você mais do que nunca; amanhã, vou amá-la ainda mais. Eu preciso de você mais do que nunca; eu quero você mais do que nunca. Sou um homem de 50 anos que chega até você sentindo-se como um adolescente apaixonado, pedindo que me dê uma chance e que retribua o meu amor.

Rosie Dunne, eu amo você do fundo do meu coração. Sempre amei você, até mesmo quando tinha 7 anos e menti sobre ter caído no sono enquanto esperava pelo Papai Noel, quando tinha 10 anos e não a convidei para a minha festa de aniversário, quando tinha 18 anos e tive que me mudar, e mesmo nos dias em que me casei, no dia do seu casamento, nos batizados, aniversários e quando brigamos. Amei você durante tudo isso. Faça com que eu seja o homem mais feliz do mundo e fique comigo.

Por favor, responda.
Com todo o meu amor,
Alex”

O reencontro do casal acontece no emocionante epílogo.

Rosie leu a carta pelo que parecia ser a milionésima vez, dobrou-a duas vezes e guardou-a novamente no envelope. Seus olhos passaram por sobre a coleção de cartas, cartões de felicitações, e-mails impressos, folhas com as transcrições impressas dos bate-papos da internet, faxes e bilhetes escritos à mão no tempo da escola. Havia centenas de papéis espalhados pelo chão, cada um servindo como relato de um triunfo ou tristeza, cada carta representando uma fase na sua vida.

Ela havia guardado tudo.

Estava sentada sobre o tapete de lã de carneiro diante da lareira no seu quarto em Connemara e continuou a absorver a panóplia de palavras que se estendia à sua frente. Sua vida descrita em tinta. Passou a noite inteira relendo tudo aquilo. Suas costas doíam por ter passado tanto tempo encurvada e seus olhos ardiam. Ardiam por causa do cansaço e das lágrimas.

Pessoas que ela amou com tanto ardor ganharam vida em sua cabeça enquanto ela lia seus medos, emoções e pensamentos, que antigamente foram muito reais, mas que agora já haviam desaparecido da sua vida. Amigos que chegaram e partiram, colegas de trabalho, amigos do tempo da escola, amantes e parentes. Ela reviveu toda a sua vida naquela noite, em uma questão de horas.

Sem que ela percebesse, o sol se ergueu outra vez, as gaivotas estavam dançando pelo céu, grasnando animadas enquanto sua comida era jogada de um lado para outro pelo mar revolto. As ondas batiam contra as rochas, ameaçando ultrapassá-las. Nuvens cinzentas se erguiam como anéis de fumaça do lado de fora da janela, resquícios da chuva que caiu no início da manhã.

As cores delicadas de um arco-íris recém-formado se ergueram sobre o vilarejo sonolento, estenderam-se por sobre o céu do alvorecer e caíram no campo oposto à Pousada Docinho. Uma visão vibrante de vermelho-maçã, manteiga, damasco, abacate, jasmim, rosa do campo e azul noturno contra o céu cinzento. Tão perto que Rosie quis estender a mão para tocá-lo. A sineta da recepção no térreo tocou bem alto. Rosie bufou e olhou para o relógio. 6h15. Um hóspede acabava de chegar.

Ela se levantou devagar, gemendo com a dor depois de passar tantas horas agachada na mesma posição. Segurou-se na cabeceira da cama e ergueu-se até ficar em pé. Endireitou aos poucos as costas.

A sineta tocou outra vez.
Os joelhos de Rosie estalaram.

— Ai! Já vou! — gritou ela, tentando esconder a irritação na voz.

Foi idiotice passar a noite inteira relendo aquelas cartas. Hoje seria um dia movimentado e ela não podia se dar ao luxo de estar cansada. Cinco hóspedes iriam sair e outros quatro estavam para chegar pouco depois deles. Os quartos precisavam ser limpos, os lençóis lavados e trocados para os recém-chegados, e ela nem havia começado a preparar o café da manhã.

Ela andou na ponta dos pés por entre a massa de cartas espalhadas pelo tapete, tentando não pisar nos papéis importantes que havia guardado por toda a vida. A sineta tocou mais uma vez.

Ela revirou os olhos e resmungou um palavrão. Não estava a fim de lidar com hóspedes impacientes hoje. Não depois de passar a noite inteira sem dormir um segundo.

— Só um minuto — disse ela com um toque de animação na voz, segurando no corrimão e descendo rapidamente pelas escadas.

Ela sentiu o dedão do pé bater na mala que fora deixada estupidamente diante do último degrau. Sentiu seu corpo cair para a frente, e em seguida uma mão a agarrou com firmeza pelo braço para ampará-la.

— Desculpe-me, por favor — declarou ele, e Rosie ergueu a cabeça no mesmo instante.

Deu uma boa olhada no homem que estava diante dela, com quase um metro e oitenta de altura, cabelos escuros que haviam ficado grisalhos nas laterais da cabeça. Sua pele estava cansada e enrugada ao redor dos olhos e da boca. Os olhos pareciam estar cansados, como aconteceria com qualquer pessoa que houvesse acabado de passar quatro horas num carro para chegar até Connemara após desembarcar de um voo de cinco horas. Mas aqueles olhos brilhavam e reluziam conforme a umidade neles começava a aumentar.

Os olhos de Rosie se encheram de lágrimas também. E ela segurou no braço dele com mais força. Era ele. Até que enfim, era ele. O homem que escreveu a última carta que ela leu naquela manhã, implorando por uma resposta.

Claro, depois que ela a recebeu, não demorou muito para responder. E, conforme o silêncio mágico os envolvia de novo, depois de cinquenta anos, tudo o que eles conseguiram fazer foi olhar um nos olhos do outro. E sorrir”