“As Vantagens de Ser Invisível” ganhou capítulo extra com carta inédita de Charlie

Um dos livros mais populares da carreira de Stephen Chbosky, o maravilhoso “As Vantagens de Ser Invisível” completa na próxima semana 26 anos desde seu lançamento em fevereiro de 1999. Desde então, o livro foi publicado em dezenas de países, traduzido para vários idiomas e até ganhou uma incrível adaptação cinematográfica em 2012.
Apesar de não ter ganhado nenhuma continuação, nem em livro nem no audiovisual, a obra ganhou uma nova versão com uma carta extra de Charlie, protagonista da história, escrita mais de 20 anos desde o capítulo final da versão original do livro. Essa nova versão foi publicada em 2020.
No trecho inédito, Charlie reflete sobre a juventude em que enfrentou problemas psicológicos e reafirma que superou todos eles. A carta é um abraço ao leitor que, de alguma forma, se identificou com o protagonista e enxergou nele admiração, superação, conquistas e uma grande possibilidade de vitória.
Confira a carta extra completa abaixo.
“Querido amigo, há vinte anos não mando uma carta a você. Nem mesmo sei se este ainda é o endereço certo de envio. Mas mandarei assim mesmo e torço para que você a encontre. Se encontrar, significará o mundo para mim. Porque quero agradecer a você.
Anos atrás, existia um garoto muito triste que precisava de muita ajuda. E escrever a você foi o começo desta ajuda. Não importa o que eu tenha aprendido como adulto, nunca me esqueço de como é me sentir triste, louco, deprimido ou fora de mim e de meu corpo. E nunca me esqueço, nos dias ótimos, de como era ir naqueles passeios com aquelas músicas e aquelas pessoas bonitas que ainda posso chamar de amigas. Aquele garoto escreveu algumas cartas e as enviou pelo mundo a um estranho de que tinha ouvido falar. E aí, aconteceu uma coisa incrível. Você respondeu.
Sei que não mandei meu nome ou endereço verdadeiros, mas de algum jeito minhas cartas foram compartilhadas. As pessoas passaram adiante, como o poema de Patrick. Fizeram fotocópias e trocaram. Sussurraram como uma senha secreta. Não sei o que aconteceu, mas aconteceu. Você leu minhas cartas. E então, respondeu a algumas.
Você mandou cartas a endereços aleatórios. Algumas foram encaminhadas a mim. Talvez algumas não tenham conseguido. Não sei se recebi todas. Mas recebi cartas suficientes de você para perceber algo extraordinário. E se você pudesse ler as caixas e mais caixas de cartas que recebi nos últimos vinte anos, saberia o que eu sei. De uma vez por todas. Para todo o sempre. Você não está sozinho.
Sabe, amigo, existem milhões de nós. Milhões de pessoas que lutam com todo tipo de problemas (e vencem). Você ficaria chocado ao saber quantas pessoas entendem exatamente o que você está passando. Isto não quer dizer que o que você vive seja menos, de alguma forma. Menos significativo. Menos especial. Menos único. Ao contrário, significa que o que você vive é mais. É importante. Merece ser visto, falado e compreendido.
Agora já faz vinte anos. Vinte anos desde que recebi suas cartas. E não sei dizer quantas vezes elas me salvaram o dia ou me fizeram chorar ou rir, ou acreditar, ou ter esperanças de que exista uma luz no fim do túnel. Não sei dizer como é ler uma carta de uma jovem que ia se m**ar, ler minhas cartas e decidir pelo contrário. E ela agora está em seus trinta anos. É feliz no casamento. Tem filhos. Os tempos sombrios acabaram para ela. Como acabarão para você.
Assim, se estas palavras fizerem sentido. Se você conhece pessoalmente estas histórias. Se viveu ou testemunhou maus-tratos. Físicos. Emocionais. Se lutou com qualquer doença mental ou ama alguém que luta. Se está cercado por aqueles que chaam o que você é de diferente, em vez de bonito. Se sua mente ou seu orpo gritam pedindo paz, reconhecimento e compreensão, tenha uma certeza…
Você faz parte de uma família infinita. As pessoas que passaram por coisas horríveis e sobreviveram a elas. Se está lendo estas palavras, você venceu hoje. Está aqui. Está vivo. Tem opções. Pode se livrar de uma situação ruim. Seguir em frente. Sair. Terminar. Convidar ela (ou ele) para sair. Escrever aquele livro. Compor aquela música. Ouvir a música. Assumir a direção. Aproveitar a oportunidade. E viver. Não importa a estratégia que escolher, você vence.
Nós somos muito mais do que eles jamais serão. E podemos nos encontrar. Podemos nos ajudar. Podemos conversar. E podemos construir uma vida ótima. A felicidade não é algo para os outros. É para você. É para mim. É para todos nós. Nós decidimos se seremos felizes ou não. Este é meu jeito comprido de lhe dizer obrigado, Querido Amigo.
Vinte anos atrás, um jovem escreveu algumas cartas. Você respondeu a ele. E um adulto se inspirou a escrever de novo. Assim, só para o caso de esta acabar sendo minha última carta, quero responder a uma pergunta. A pergunta que mais fiz desde que suas cartas me encontraram. “O que aconteceu com Charlie?”. E posso lhe contar o que aconteceu com Charlie em duas palavras… Ele conseguiu. Você também conseguirá. Com amor, sempre Charlie”.