Criadora de “Eric” comenta sobre desfecho da minissérie: “Eu não queria que o público dissesse que foi um final feliz”

Eric” estreou na Netflix na última quinta-feira (30) e já figura entre as produções mais assistidas na plataforma de streaming atualmente. Abi Morgan, criadora da minissérie, disse em entrevista à Variety que deseja que o impacto de seu projeto permaneça com o público por muito tempo depois de terminar.

Os parágrafos a seguir contêm spoilers de “Eric“.

O final de “Eric” parece, de fato, otimista. Edgar volta para casa com seus pais, Vincent busca ajuda em uma clínica de reabilitação para tratar seus problemas de vício e comportamento e Cassie finalmente se divorcia, buscando priorizar a si mesma. O detetive Letroit, por sua vez, consegue um desfecho, apesar de trágico, para o assassinato de Marlon Rochelle.

Apesar do final atender às expectativas de muitos espectadores, a criadora afirmou que não gostaria que as pessoas enxergassem como uma conclusão “feliz”.

“Esse foi um final desconfortável. Há um alívio, porque todos querem que um filho encontre o caminho de casa para os pais. Mas para mim, também há uma dor no final do programa, e é uma dor muito deliberada e intencional que todos deveríamos sentir. É palpável e importante que esteja presente. Se não for, então este é apenas mais um programa de TV que usou o tropo do desaparecimento de uma criança como entretenimento. Quero que seja mais do que isso”, disse Morgan.

Embora a história de Vincent tenha um final esperançoso, não há como negar que nem todas as pessoas que vivenciam circunstâncias parecidas teriam tanta sorte. Morgan diz que fez considerações cuidadosas para reconhecer que a rápida recuperação de Vincent, que na história acontece em “algumas semanas”, é resultado de uma série de privilégios. A oportunidade do personagem em recuperar sua vida e trabalho, sem mencionar a chance de provar a Edgar que ele mudou, é reflexo dele ser um homem branco com acesso ao dinheiro.

Acho que se este fosse um drama que não tivesse uma história secundária com Marlon, eu me sentiria muito desconfortável com esse final. Mas é uma decisão muito deliberada mostrar a capacidade que Vincent tem por causa de seu privilégio, sua profissão, seu intelecto, sua educação e seu apoio familiar, e porque ele é um homem branco com status. Existem ferramentas para ele se reabilitar e encontrar uma forma de redenção“, comentou a roteirista.

Reprodução: Netflix.

Uma das maneiras que Morgan escolheu para ilustrar esses privilégios pode ser vista no último episódio da minissérie, que destaca o reencontro entre Edgar e seus pais. A cena, no entanto, tem um corte seco para o saguão de delegacia de polícia de Nova York, onde Cecile, a mãe de Marlon, ainda está sentada à espera de notícias sobre seu filho, que desapareceu meses atrás.

“Isso é muito consciente. Trabalhamos muito nesse corte. Você se afastou de Cassie quando ela estava prestes a atravessar a rua e ficar com Edgar, e nós impedimos que eles realmente pudessem se reunir. Acho que estou tentando mostrar que, num mundo injusto, há uma razão pela qual algumas crianças não voltam para casa. E temos uma responsabilidade moral, social e cultural de sermos responsabilizados por isso“, afirmou a criadora de “Eric“.

Eric” está disponível na Netflix.