Explicação de “Mazey Day”, novo episódio de “Black Mirror”
Poucos meses antes do primeiro teaser da sexta temporada de “Black Mirror” ser oficialmente divulgado, Charlie Brooker, criador da série, havia revelado que a nova leva de episódios exploraria novos elementos, incluindo alguns que ele mesmo havia jurado que a série nunca utilizaria. Isso fica evidente em “Mazey Day“, quarto episódio da nova temporada, que abusa do sobrenatural pela primeira vez em uma reviravolta no mínimo surpreendente.
Contextualizando
Na história, Mazey Day é uma atriz mundialmente famosa que está participando das gravações de um novo filme. No entanto, uma mudança de comportamento brusca da estrela começa a incomodar seus colegas de elenco. Ela começa a beber de dia, apresenta instabilidade no humor e para de ir ao set de gravações inesperadamente, sumindo do mapa sem deixar explicações para absolutamente ninguém.
Nesse cenário, entra Bo, uma ex-paparazzi que abandonou a profissão após provocar o suicídio de uma celebridade. No entanto, ela é contatada por um amigo, que afirma que o chefe de uma agência está oferecendo 30 mil dólares para a primeira pessoa que conseguir fotografar Mazey após seu desaparacimento repentimento. A oferta aumenta para 40 mil dólares caso a atriz apareça com “cara de drogada” nos cliques. Endividada, Bo decide que é hora de voltar aos trabalhos e inicia uma investigação particular para descobrir o paradeiro da estrela.
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Por que Mazey desapareceu?
Em uma determinada noite chuvosa, Mazey dirigia alcoolizada quando atropelou alguém na estrada. Em grande parte do episódio, acredita-se que ela atropelou uma pessoa, a quem ela se recusou a prestar socorro. A narrativa dá a entender que Mazey se sente culpada pelo acidente e decidiu procurar ajuda médica para se livrar do vício em álcool e outras drogas.
No entanto, quando Bo e outros três paparazzis descobrem que Mazey está internada em uma clínica de reabilitação, flashbacks revelam que Mazey, na verdade, atropelou um lobisomem. Ela, inclusive, desceu do carro para prestar socorro, mas foi surpreendida ao ser mordida pela criatura. A reviravolta, então, revela que a instabilidade no humor na atriz, assim como seu desaparecimento no set, eram consequências do fato dela também ter virado lobisomem, e não apenas em decorrência de um vício em certas substâncias, como se acreditava até então. Com medo de machucar pessoas, ela decidiu buscar ajuda para controlar seus instintos aparentemente incontroláveis.
O papel do médico
Na narrativa da série, Mazey busca ajuda de um médico chamado Dr. Babich. Até então, o espectador é levado a acreditar que se trata de um profissional que trabalha com dependentes químicos. O diálogo entre médico e paciente, inclusive, sugere isso.
“O primeiro passo é reconhecer que você não tem controle sobre isso. Que isso dominou você. E você tem que ser humilde ao enfrentar isso. Providenciei um lugar para você ficar. Privativo, fora da cidade, só por uns dias. Você precisa de isolamento. Longe de todos e de tudo“, diz Dr. Babich. “Pode me curar?“, pergunta Mazey. “Bom, precisa sobreviver a esta noite. E a próxima noite. Depois vamos ver“, responde o profissional.
Quando o quarteto de fotógrafos invade a clínica de reabilitação e vê Mazey acorrentada a uma cama, eles imediatamente deduzem que Mazey está participando de um processo de reabilitação conhecido como “crise de abstinência”, que consiste em isolar o paciente e deixá-lo sem acesso a qualquer substância. Inconformada com o procedimento ilegal, Bo decide desacorrentar Mazey.
Os paparazzis são surpreendidos após a lua cheia brilhar e Mazey se transformar em um lobisomem, deixando claro que o motivo pelo qual ela estava acorrentada não era porque ela era viciada em drogas, e sim porque se transformou em uma criatura nociva aos seres humanos. Aqui, fica evidente que o maior problema de Mazey estava longe de ser uma dependência química, e o diálogo supracitado entre ela e o médico ganha outro significado.
A série dá a entender que o Dr. Babich é um médico famoso por diagnosticar a licantropia, a metamorfose do homem em lobo. Ou seja, ele provavelmente já fez o mesmo diagnóstico em outras celebridades, deixando claro que Mazey está longe de ser a primeira lobisomem a quem ele atendeu. Ou seja, no universo de “Mazey Day“, existem outros lobisomens em Hollywood.
Alguma vítima se tornará lobisomem?
Após ser desacorrentada pelo grupo de fotógrafos, Mazey, transformada em lobisomem, inicia uma verdadeira matança. Ela mata dois paparazzis na clínica de reabilitação, um estranho que ela encontra na estrada e outras cinco pessoas dentro do restaurante na cena final. Todas as vítimas, aparentemente, foram mortas de maneiras pra lá de brutais, sendo improvável que alguma delas sobreviva para contar história e viver uma vida dupla.
Hollywood conseguirá encobrir o caso?
Bom, Bo ficou com uma coleção de câmeras que registaram diversas fotos de Mazey, tanto acorrentada, quanto durante o processo de transformação em lobisomem. No entanto, caso ela seja interrogada pela polícia, as câmeras podem ser confiscadas como prova dos crimes, o que fará com que ela perca seu pagamento e as fotos nunca vejam a luz do dia.
A melhor ideia é Bo vender as fotos o mais rápido possível e seguir em frente com sua vida antes que haja qualquer tentativa da indústira cinematográfica em encobrir o caos protagonizado por uma grande estrela. O final dessa história, no entanto, nunca saberemos.
O significado do episódio
“Mazey Day” critica o sensacionalismo e a invasão de privacidade, evidenciando como um registro vale muito mais que o estado emocional de uma pessoa — e até mais que sua própria segurança. Isso fica claro na cena em que Mazey começa a se transformar em um lobisomem e os fotógrafos, mesmo vendo o perigo de perto, optam por registrar o momento em vez de correrem, priorizando o registro em detrimento de sua própria segurança.
O episódio destaca também como a mídia acredita que as celebridades, por serem figuras públicas, precisam aprender a lidar com a superexposição. Em uma das cenas, um dos paparazzis afirma: “Alguém forçou ele a ser ator? Querem fama, dinheiro e tudo mais, e aí fica triste porque se sente exposto, é idiotice”. A fala evidencia como esses profissionais se sentem no direito de expor os momentos mais íntimos dos famosos, defendendo a ideia de que eles precisam lidar com isso pois escolheram estar nos holofotes.