Final explicado de “Adolescência”, nova minissérie da Netflix

A minissérie “Adolescência” virou o mais novo monumento da Netflix. Uma das produções da plataforma mais consumidas deste ano — ainda que tenha sido lançada há menos de uma semana —, a minissérie também está sendo ovacionada pela critica especializada e se destaca como uma grande promessa para a próxima temporada de premiações.
Na trama, Jamie (Owen Cooper) é um adolescente de 13 anos que é acusado de assassinar uma de suas colegas de escola, Katie Leonard. Ele, no entanto, garante ser inocente, ainda que existam evidências que provem sua autoria no crime. A partir daí, os pais de Jamie, um inspetor de polícia e uma psicóloga precisam sair em busca de respostas.
Com quatro episódios filmados em primorosos planos-sequência, “Adolescência” parece ter deixado muitos espectadores com mais perguntas que respostas. A ausência de um julgamento fez muitas pessoas se questionarem: afinal, Jamie é culpado ou inocente? Embora as respostas não se materializarem como provas em um tribunal, elas ainda aparecem, mesmo que em diálogos sutis, ao longo da minissérie.
No final do primeiro episódio, a minissérie escolhe transitar de uma trama de suspense para uma narrativa dramática ao apresentar de cara as evidências de que Jamie é, de fato, culpado pelo crime. Câmeras de segurança filmaram o momento em que o adolescente assassina sua colega de escola, Katie, não deixando dúvidas sobre ele ser o autor do crime.

A quebra de expectativa, no entanto, parte do próprio discurso do personagem, que ao ver seu pai aos prantos, afirma de uma maneira tímida: “Pai, não fui eu”. A negativa de Jamie, porém, acontece depois que ele vê a figura mais importante de sua vida fragilizada, o que o faz buscar se isentar da responsabilidade do ato que provocou aquela reação em seu pai.
A partir do segundo episódio, a minissérie deixa claro que a polícia não está mais em busca do assassino, pois ele já foi encontrado, mas sim das motivações do crime. É quando, através de conversas com colegas de Jamie na escola e de uma sessão de terapia, tudo começa a se materializar. E, nesse sentido, a minissérie acerta por não apresentar respostas fáceis, não apontando um único fator que teria motivado a radicalização do adolescente.
Jamie era vítima de bullying, tinha problemas com autoconfiança (se autodenominava a pessoa mais ‘feia’ do seu ciclo social) e seu acesso à internet não era supervisionado pelos pais, o que o permitiu participar de grupos online que cultivavam a masculinidade tóxica. É nesse contexto que “Adolescência” destaca que uma criança não está segura por estar em seu quarto, pois as mídias sociais podem influenciar significativamente na personalidade e conduta de qualquer pessoa — sobretudo de adolescentes.

Em um dos trechos do terceiro episódio, é revelado que Katie teve uma foto exposta contra sua própria vontade nas redes sociais. Jamie confessou que aproveitou esse momento de fragilidade da garota para convidá-la para sair, mas ainda assim foi rejeitado por ela, o que alimentou sua obsessão e possível desejo de vingança contra a jovem.
No mesmo episódio, é evidenciado a visão misógina que Jamie tem em relação às mulheres de modo geral. Ele conta que não tem nenhuma amiga mulher e revela que acha normal alguém da idade dele ter intimidade com outras garotas. Ao longo da conversa com a psicóloga, Jamie vai demonstrando cada vez mais confiança em seus relatos, parecendo cada vez mais normalizar tudo que pensa.
No trecho mais fascinante do episódio, Jamie acaba confessando o crime em um momento de descontrole. Ele compara o trabalho da terapeuta com o do outro psicólogo que o atendeu anteriormente e, após perceber que confessou o crime, tenta culpabilizar a profissional por seu próprio temperamento.
“O outro cara é muito mais tranquilo. O que ele perguntou pra mim foi muito mais fácil. Se eu tinha entendido o que eu fiz. Vai se f***r Eu não disse isso! Você ‘tá’ colocando palavras na minha boca! Parece uma m***a de uma armadilha!“, diz Jamie, aos gritos.

O último episódio, o mais dramático da minissérie, se passa 13 meses após os eventos dos três episódios anteriores. Através de uma ligação, Jamie confessa o crime para a família pela primeira vez e conta que decidiu mudar seu depoimento, optando por assumir a responsabilidade pelo assassinato de Katie.
Uma sequência emocionante mostra os pais do réu, Eddie (Stephen Graham) e Manda (Christine Tremarco), fazendo uma retrospectiva da vida que o garoto levava na casa da família. Eles lamentam não terem reconhecido alguns sinais e se culpam pelo fato de não terem interferido nas vezes em que viam Jamie usando o computador em plena madrugada, mesmo quando tinha aula na manhã seguinte. Eddie, em particular, se culpa por não ter sido mais atencioso com o filho, priorizando o trabalho em detrimento da família.

Na cena final, Eddie visita o quarto de Jamie pela primeira vez desde o ocorrido — o cômodo onde Jamie se trancou e passou horas navegando online, o que contribuiu para o ato hediondo de matar Katie. O pai, então, abraça o urso de pelúcia do filho e, comovido, diz sutilmente: “Eu deveria ter feito melhor“. A escolha do quarto como último ambiente do projeto é bastante sugestiva. Afinal, nada mais simbólico do que a história terminar onde ela, indiscutivelmente, também começou.
“Adolescência” está disponível na Netflix.