No livro “O Menino do Pijama Listrado”, família de Bruno descobre sua morte anos depois

Cena de O Menino do Pijama Listrado.

Inspirado no livro de mesmo nome do autor John Boyne, “O Menino do Pijama Listrado” é uma das obras cinematográficas mais chocantes pautadas na segunda guerra mundial. Trazendo Asa Butterfield como o protagonista Bruno e Vera Farmiga como sua mãe, a história desafia seu público a assistir às últimas cenas sem conseguir derramar uma lágrima. Missão quase impossível, convenhamos.

ATENÇÃO! Contém spoilers de “O Menino do Pijama Listrado”.

Na história, Bruno e toda sua família precisaram sair de sua moradia em Berlim para uma casa em um campo isolado em virtude do trabalho de seu pai. Instigado pela curiosidade de saber o que se passa na fazenda vista através de seu novo quarto, Bruno se dirige até o local com o objetivo de “explorar” os arredores de seu novo lar. É nesse cenário que ele encontra Shmuel, uma criança judia que tem a sua idade, e os dois garotos logo constroem uma grande amizade.

Como toda criança, Bruno e Shmuel anseiam por brincar e se divertir. No entanto, uma cerca de arame farpado os separa e impede que eles tenham contato físico além de um aperto de mãos. Os garotos são incentivados a buscarem uma solução para o caso quando o pai de Bruno, um líder nazista, reconhece que o lugar não é “apropriado” para sua família e decide enviá-los de volta para Berlim.

Como sua última missão no campo, Bruno decide que ele e Shmuel precisam encontrar um jeito de brincarem juntos em uma espécie de “despedida”. Para isso, Bruno pede que Shmuel o arrume pijamas listrados como o dele e de todos os outros que vivem do outro lado da cerca, para que ele possa atravessar os arames disfarçado e não seja reconhecido pelos soldados que lá dentro trabalham. Shmuel cumpre o combinado e Bruno, vestido como judeu, embarca em sua última missão ao lado do novo amigo. Última em todos os sentidos.

Vítima da inocência de uma criança, Bruno acabou indo parar em um campo de concentração nazista liderado por seu próprio pai. O garoto não imaginava que sua primeira e última aventura ao lado de Shmuel acabaria em um suposto banho na temida câmara de gás.

As cenas finais do filme mostram a personagem de Farmiga, mãe de Bruno, em busca do filho ao lado do pai e irmã do garoto. Eles encontram as vestimentas que Bruno tirou jogadas no chão de um lado da cerca, e a ficha cai, ao perceberem que o filho se juntou aos judeus e foi vítima do massacre comandado pelo próprio pai.

Apesar de emocionante e de possivelmente ser o momento mais chocante do filme, as mesmas cenas não aconteceram no livro que inspirou a adaptação para os cinemas. Nos escritos de John Boyne, passa-se mais de um ano até a família de Bruno descobrir seu final trágico.

Separamos trechos do capítulo final de “O Menino do Pijama Listrado” que relata o momento exato em que a morte de Bruno é descoberta pelos oficiais nazistas. O último trecho pode indicar ainda que o pai do garoto foi punido pelos demais soldados e também morto na câmara de gás. Confira:

“Nada mais se soube de Bruno depois disso. Muitos dias mais tarde, depois que os soldados haviam revistado cada canto da casa e ido a todas as cidades e vilas com fotos do garoto, um deles descobriu a pilha de roupas e as botas que Bruno acomodara perto da cerca. O soldado deixou tudo lá, intocado, e foi buscar o comandante, que examinou a área e olhou para a esquerda e para a direita assim como Bruno fizera, sem ser capaz de compreender o que acontecera ao filho. Era como se ele tivesse simplesmente desaparecido da face da Terra e largado as roupas para trás.

A mãe não voltou a Berlim tão rápido quanto esperava. Ficou em Haja-Vista por muitos meses à espera de notícias de Bruno, até que um dia, muito subitamente, pensou que ele tivesse ido sozinho para casa, e então de imediato retornou à casa antiga, de certo modo acreditando encontrá-lo sentado na soleira da porta, esperando por ela. É claro que ele não estava lá.

O pai ficou em Haja-Vista por mais um ano depois daquilo e acabou sendo hostilizado pelos outros soldados, nos quais mandava e desmandava sem escrúpulos. Todas as noites ele dormia pensando em Bruno e quando acordava estava pensando nele também. Um dia ele formulou uma teoria sobre o que poderia ter ocorrido e foi novamente até o ponto na cerca onde as roupas haviam sido encontradas um ano antes.

Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas então ele explorou um pouco e descobriu que naquele ponto a parte de baixo da cerca não estava tão bem fixada ao chão quanto nas demais, e que, quando erguida, a cerca deixava um vão grande o bastante para uma pessoa pequena (como um menino) conseguir passar por baixo rastejando. Ele olhou para a distância e seguiu alguns passos lógicos e, ao fazê-lo, percebeu que as pernas não estavam funcionando direito – como se não pudessem mais manter seu corpo ereto – e acabou sentado no chão, quase na mesma posição em que Bruno passara as suas tardes durante um ano, embora sem cruzar as pernas sob si.

Alguns meses mais tarde alguns soldados vieram a Haja-Vista, e o pai recebeu ordens de acompanhá-los, e foi sem reclamar, contente de ir com eles, pois não se importava com o que lhe fizessem agora“.