Saiba o que é a Síndrome de Munchausen por Procuração, abordada no filme “Fuja” e na série “The Act”

Por que a mãe de Chloe mentia sobre doenças em Fuja? Entenda a Síndrome de Munchausen por Procuração, abordada no filme recém-chegado à Netflix e na série do Hulu

O suspense “Fuja“, lançado em 2020 e recém-chegado à Netflix, figurou o topo da lista de títulos mais assistidos na plataforma durante semanas. O filme segue a história de Chloe, uma jovem que cresceu sendo vítima de diversas doenças graves — asma, arritmia, diabetes, hemocromatose e paralisia —, ficando sob os cuidados da mãe e sendo completamente dependente desde criança.

Apesar de possuir um roteiro nem um pouco complexo, uma das grandes reviravoltas do filme intrigou grande parte dos telespectadores. Afinal, por que a mãe de Chloe dizia que a filha possuía inúmeras doenças e chegava até a medicá-la com remédios para uso animal? Embora não seja citada diretamente no filme, a resposta é clara: Síndrome de Munchausen por Procuração.

A personagem interpretada por Sarah Paulson sofre de uma síndrome já retratada em uma série de sucesso do Hulu, a aclamada “The Act“, que rendeu diversas indicações a premiações importantes para a dupla protagonista interpretada por Joey King e Patricia Arquette. Diferente de “Fuja”, a série é baseada em fatos reais e conta a história de Dee Dee, uma mãe que foi assassinada pela filha Gypsy após a jovem descobrir que era medicada sem necessidade pela mãe.

A Síndrome de Munchausen por Procuração é uma espécie de abuso infantil em que um dos pais ou cuidadores de uma criança simula e/ou provoca sintomas de doenças inexistentes a fim de chamar atenção para si mesmo. Em consequência disso, a vítima é submetida a sucessivas internações e é exposta a exames e tratamentos potencialmente perigosos e desnecessários, o que além de resultar em sequelas psicológicas, coloca a vida do paciente em risco.

O termo “Síndrome de Munchausen” foi usado pela primeira vez em 1951 pelo médico inglês Richard Asher, descrevendo pacientes que relatavam falsas histórias acerca de sintomas sobre doenças inexistentes. Em 1977, a síndrome foi introduzida na pediatria sob o acréscimo do termo “por Procuração”, a fim de demonstrar situações em que um dos pais, geralmente a mãe, era o responsável pela simulação desses sintomas no filho.

O diagnóstico do transtorno é complexo e exige uma análise minuciosa do histórico médico do paciente, onde precisam ser analisadas todas as vezes em que ele foi internado e o local onde ocorreu a internação, a fim de verificar o motivo dessa e quais procedimentos foram realizados na vítima. Dessa forma, será possível observar a incompatibilidade nos relatos das histórias e a ausência de sintomas de doenças diagnosticadas pelo próprio genitor.

Pode conter spoilers de “Fuja” e “The Act”

No filme “Fuja“, Chloe suspeita que sua mãe esconde segredos sombrios ao notar que em um dos frascos de seus remédios seu nome não é constado como paciente, e sim o nome de sua mãe. Ela vai até a farmácia onde a mãe compra os remédios e descobre que estava sendo medicada com Ridocaína, um remédio para cachorros que se consumido por um humano pode levar a paralisia nas pernas.

Já em “The Act“, as suspeitas de Gypsy acerca das mentiras da mãe começam quando ela passa desobedecer em segredo algumas das regras ditadas pela mãe. Em um primeiro exemplo, Dee Dee alegava que caso Gypsy andasse por muitos minutos, ela poderia se acidentar e causar uma maior debilidade nas pernas. Noutro caso, a mãe proibia a filha de comer qualquer alimento pela boca e afirmava que ela só podia se alimentar pelo tubo instalado em sua barriga. Quando começou a contrariar essas decisões da mãe e ver que as atitudes não resultavam em qualquer sequela, a filha foi atrás de novas informações até descobrir que era completamente saudável. Na história inspirada em casos reais, uma médica ainda chega a desconfiar de Dee Dee ao notar ausência de sintomas ‘primordiais’ em doenças diagnosticadas em Gypsy e observar contradições nos relatos da mãe.