Final explicado de “Pessoas Comuns”, episódio de “Black Mirror”

“Black Mirror” está de volta – e mais “Black Mirror” do que nunca. O primeiro episódio da série, intitulado de “Pessoas Comuns“, é quase uma sátira da Netflix sobre um sistema adotado pela própria plataforma de streaming — que deixa seus assinantes reféns de um serviço introduzido na vida de milhares de pessoas como algo acessível, o que hoje já parece uma realidade distante.
Contextualizando
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“Pessoas Comuns” acompanha a história de Amanda e Mike, um casal que leva uma vida simples, mas feliz, cujo maior dilema é a dificuldade dela em engravidar. Certo dia, após um acidente de trabalho, Amanda fica entre a vida e a morte e corre o risco de perder sua consciência completamente. O que até pouco tempo atrás poderia ser um quadro praticamente irreversível ganhou uma alternativa depois que o procedimento experimental Rivermind foi criado, permitindo que a função cognitiva do paciente continue funcionando após graves acidentes.
Depois de ser apresentado à essa revolução da neurociência, Mike decide submeter a esposa ao tratamento. Ela passa por todos os procedimentos em segurança e consegue retomar sua consciência, podendo usufruir dos benefícios desse procedimento experimental com o pagamento mensal de 300 dólares. Apesar do valor ser alto para os padrões de vida do casal, Mike decide adicionar horas extras de trabalho e sugere um corte de gastos para que eles consigam dar conta desta nova demanda.
No início, tudo parece ocorrer perfeitamente bem. No entanto, o primeiro problema surge quando o casal está a caminho de um hotel, o lugar onde eles comemoram o aniversário de casamento todos os anos, e Amanda desmaia repentinamente. Ela retoma à consciência poucos metros depois de Mike fazer o retorno na estrada e, no dia seguinte, eles decidem ir ao centro da Rivermind para tentar entender o que aconteceu.
Por que Amanda desmaiou?
Após entrarem em contato com a empresa, Amanda e Mike são informados que ela desmaiou porque o casal saiu da “área de cobertura”. Acontece que, quando Mike fez a compra do procedimento experimental, ele foi informado que existiam torres do serviço espalhadas por todo o estado e que, em até um ano, haveriam torres em todos os países ao redor do mundo. No entanto, o casal descobre que as torres do Condado de Palmer, para onde eles estavam indo, estavam sendo atualizadas por torres do pacote Rivermind Plus, o mais novo update da empresa.

Agora, para continuarem acessando algumas regiões do estado, eles teriam que fazer o upgrade para o novo pacote, que custa mais que o dobro do plano anterior, ou ficariam limitados a transitarem no condado onde vivem. Não bastasse, Amanda começa, de uma hora para outra, a discursar propagandas projetadas para serem relevantes para a situação do momento. Ou seja, se ela está conversando com alguém sobre café, inesperadamente ela se torna a porta-voz de uma propaganda do alimento — sem ter consciência de que isso, de fato, está acontecendo.
Para que a esposa tenha um estilo de vida mais agradável, Mike decide se submeter à inscrição de uma plataforma em que ele é remunerado à medida que cumpre determinados desafios. É dessa forma que ele consegue pagar o Rivermind Plus… mas os problemas não acabam por aí. Quando Amanda começa a apresentar um sono excessivo, que a faz dormir pelo menos metade de um dia, o casal descobre que a empresa agora possui um novo pacote: o Rivermind Lux, que permite ao usuário controlar até os níveis de suas emoções e sensações.
A implementação desses novos pacotes é um retrato fiel do que acontece no mundo real, incluindo o próprio universo dos streamings. Anos atrás, os assinantes da Netflix pagavam por um plano único na plataforma. No entanto, recentemente, a plataforma expandiu seu número de pacotes, com o seu plano padrão se tornando o famoso padrão com propagandas, no qual os assinantes são obrigados a assistirem comerciais no início, meio e/ou final de algum filme ou série.
A estratégia de fidelizar o público
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Muitas pessoas devem se perguntar por que razão os streamings não adotaram essa medida quando foram lançados. Bom, é simples: é necessário fidelizar o público antes de afastá-lo. Com o lançamento de tantas produções originais ao longo dos últimos anos, como as populares “Stranger Things“, “Bridgerton” e a própria “Black Mirror“, a Netflix consolidou um público fiel que está sempre à espreita aguardando por novas temporadas dessas produções.

Reféns da afeição que cultivaram por esses e outros títulos, muitos assinantes acabam se vendo obrigados a renovarem suas assinaturas para continuarem usufruindo do conteúdo que costumam consumir. O mesmo acontece em “Pessoas Comuns“: o casal protagonista é apresentado a um pacote único do serviço Rivermind, que rapidamente começa a passar por atualizações incompatíveis com a realidade de vida deles, mas do qual eles não podem abrir mão.
As consequências
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Enquanto Amanda e Mike se esforçavam para continuarem pagando um bom pacote na Rivermind em prol de uma boa qualidade de vida, eles percebiam que acontecia exatamente o contrário: Mike está sempre exausto das humilhações pelas quais precisa passar nos desafios online e Amanda está sempre cansada sentindo que seu corpo precisa de mais horas de sono — ainda que ela passe pelo menos dois terços do dia dormindo.
Final explicado de “Pessoas Comuns”
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Certo dia, Mike consegue pagar por um pacote temporário do maior plano da empresa, o Rivermind Lux, que permitirá a Amanda usufruir por 30 minutos dos benefícios ofertados. É quando Amanda, com seus níveis de serenidade no máximo, decide que é hora de morrer para que o casal pare de submeter a tantas provações.

O pedido final de Amanda é que seu marido acabe com seu sofrimento enquanto “eu não estiver lá”. O criador da série, Charlie Brooker, explicou: “Quando ela está anunciando coisas, ela não tem consciência do que está acontecendo”. Por essa razão, Mike usa o travesseiro contra Amanda enquanto ela está veiculando uma propaganda, pois é “quase como se estivesse dormindo, então ela não tem consciência naquele momento do que está acontecendo”.
Depois de matar Amanda, Mike vai para o quarto onde gravava os vídeos para a internet e olha diretamente para a câmera enquanto segura um estilete na mão. “Vemos Mike entrando na sala e deixamos um pouco a cargo da sua imaginação o que vai acontecer quando ele fechar a porta. Mas você notará que ele olha diretamente para você, o espectador, no último momento”, revelou o criador da série.

A sétima temporada de “Black Mirror” está disponível na Netflix.