Final do livro “O Nevoeiro” é menos interessante, mas mais otimista que o final do filme
Adaptação de um clássico de Stephen King, “O Nevoeiro” foi lançado em 2007 e deixou muitos espectadores perplexos com uma cena final ousada e perturbadora. A obra original, no entanto, conta com um desfecho mais otimista, embora menos interessante que o escolhido pelo diretor Frank Darabont.
A história de “O Nevoeiro” acompanha David e seu filho Billy, de apenas 8 anos, que se isolam em casa após uma violenta tempestade tomar conta da cidade. Sem saber quando as condições climáticas vão voltar à normalidade, David decide ir com o filho a um mercado local para comprar mantimentos. Acontece que, após David e o filho entrarem no estabelecimento, um nevoeiro toma conta da cidade. Uma terceira pessoa entra no mercado afirmando que o nevoeiro traz algo perigoso dentro de si que é capaz de matar qualquer pessoa que tenha contato com ele. Alguns cliente não dão ouvidos à pessoa e decidem sair do estabelecimento, mas são misteriosamente mortas, comprovando que há algo traiçoeiro em meio ao nevoeiro.
No final do filme, cinco sobreviventes saem do supermercado onde estavam alojados em rumo à casa de David, um dos integrantes do grupo. Ao chegarem no destino, eles descobrem que a esposa de David morreu, e decidem seguir viagem até que o combustível acabe. Quando isso acontece, o grupo chega à conclusão que o nevoeiro é infinito e irreversível, o que os faz pensar numa forma de morrer sem precisar se entregar aos monstros que vivem em meio à névoa.
É nesse cenário que David tem a ideia de usar uma arma que eles carregam para dar uma morte rápida e indolor para o grupo. O único problema é que eles estão em cinco, mas restaram apenas quatro balas no equipamento. Dada as circunstâncias, uma morte assim seria um presente, visto que a outra opção era se entregar aos monstros do nevoeiro e ser devorado por eles. David, então, resolve se sacrificar pelo grupo, usando as balas para matar seus quatro acompanhantes, incluindo seu filho, e decide se entregar ao nevoeiro logo depois.
Após matar o quarteto, David sai do carro estacionado ao acostamento para se entregar às bestas que se ocultam no breu. Ele começa a gritar por elas, na expectativa de que as criaturas apareçam e o matem o quanto antes. No entanto, o homem é surpreendido com um barulho alto que começa a se aproximar e, para surpresa de David, um tanque de guerra emerge em meio ao nevoeiro, seguido por diversos veículos militares que carregam sobreviventes e soldados armados, indicando que os homicídios de minutos atrás não precisavam ter acontecido pois o nevoeiro havia sido controlado.
O final do livro é, ainda que inconclusivo, mais otimista. Nos escritos originais de King, o conto se encerra com David, o filho Billy e mais dois sobreviventes caminhando pela estrada no dia vinte e dois de julho, na esperança de encontrar o fim do nevoeiro. Um final em aberto, mas que poupou os leitores da angústia gerada pelo desfecho do filme.
Em entrevista, Darabont revelou como surgiu a ideia para o cruel final do filme. “É engraçado… a maioria das pessoas presume que eu criei esse final sozinho. Até Stephen King pensava assim. Aqui está a verdade: a ideia para esse final veio diretamente do livro, e eu disse isso a ele quando estávamos juntos em Nova York fazendo a coletiva de imprensa do filme. Ele me perguntou de onde eu tinha tirado a ideia, e eu disse: ‘Steve, herdei isso de você! Veja esta linha da sua história, aqui no último capítulo… estamos ouvindo os pensamentos de David perto do fim, e diz: ‘Há três balas na arma, somos quatro lá sob cuidados. Se o pior acontecer, vou descobrir uma saída por mim mesmo.’ Estou parafraseando essa frase agora, mas é essencialmente o que ela diz. Steve ficou com uma expressão linda no rosto quando contei isso a ele, porque acho que ele se esqueceu de que a escreveu”, disse o diretor.
Ele continuou: “Então, tudo que fiz foi pegar o pensamento mais sombrio de King e segui-lo até sua conclusão mais lógica e terrível. A ideia do final do filme está logo no texto original. Eu não tive uma ideia do nada e coloquei-a na história. Fiz o que sempre faço ao adaptar King ou qualquer outro autor – procurar pistas na história que me dêem uma ideia do pensamento do autor e das quais eu possa fazer uso dramático”.
“O Nevoeiro” está disponível na Prime Video.