Final explicado de “Betê Noire”, episódio de “Black Mirror”

O segundo episódio da sétima temporada de “Black Mirror” reúne tudo que tornou a série uma das mais populares dos últimos anos: uma tensão crescente, um dispositivo tecnológico altamente inovador e performances de destaque que prometem ser eternamente lembradas pelos fãs da produção. Ainda que seja extremamente didático, o episódio pode deixar algumas perguntas pairando sobre a mente dos espectadores, e é por isso destacamos aqui o final explicado de “Betê Noire“.
Contextualizando
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Na história, Maria é uma pesquisadora de alimentos bem-sucedida cujo mundo vira de cabeça para baixo depois que Verity, sua ex-colega de escola, consegue um emprego na empresa em que ela trabalha. Pouco tempo após Verity ingressar na empresa, uma série de coisas estranhas começam a acontecer: alguns fatos dos quais Maria acreditava ter certeza são questionados não só por sua nova colega de trabalho, mas também por todos os outros funcionários que ela conhece há anos.
O Efeito Mandela
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Após relatar para seu namorado tudo que estava acontecendo após a entrada de Verity na empresa, Maria ouve do companheiro que ela provavelmente está sendo vítima do famoso “Efeito Mandela”, um fenômeno em que um grupo de pessoas lembra coletivamente de algo que não aconteceu ou que aconteceu de maneira diferente da que ela acreditava ter acontecido.

Um grande exemplo de “Efeito Mandela” está ligado à saga Star Wars. Quem já ouviu falar da saga certamente também já ouviu falar da icônica frase: “Luke, eu sou seu pai“, proferida por Darth Vader. No entanto, essa frase nunca existiu — pelo menos, não necessariamente dessa forma. Na verdade, o vilão diz apenas “Eu sou seu pai“, sem o uso do vocativo como a grande maioria das pessoas acredita.
Maria foi vítima desse fenômeno?
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A resposta é não. Em uma reviravolta que certamente vai animar os fãs mais velhos de “Black Mirror”, é revelado que Verity possui um dispositivo capaz de alterar a realidade. Dessa forma, ela consegue mudar um fato concreto e fazer com que todas as pessoas, exceto uma, acreditem nele. É assim que Verity distorce uma série de situações e apenas Maria sabe a verdade universal sobre aquilo, enquanto todas as outras pessoas ao seu redor passam a acreditar fielmente naquilo que Verity determinou.
Como Verity alterava a realidade?
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Apaixonada por computação desde a época da escola, Verity criou um compilador quântico que reajusta a frequência corporal para uma realidade paralela onde tudo que ela disser se torna verdade. Ou seja, existem várias linhas do tempo e Verity escolhe aquela onde Maria é a única que sabe a verdade sobre um determinado fato.

Para executar essa alteração da realidade, Verity usa um controle remoto em forma de pingente que reconhece unicamente sua impressão digital e muda a veracidade dos fatos de acordo com aquilo que ela verbaliza.
Quais os fatos que Verity alterou?
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Ao longo do episódio, Verity distorce a realidade várias vezes. A primeira delas é quando ela faz todo mundo acreditar que existe uma vaga aberta na empresa onde Maria trabalha. Como uma outra funcionária já havia sido contratada recentemente para ocupar o cargo para o qual Verity irá se candidatar, Maria fica intrigada e chega a pesquisar no site da própria empresa se essa vaga está, de fato, disponível.

Ademais, Verity faz todo mundo acreditar que a rede de fast food Barnies, na verdade, se chama Bernies. Depois, ela faz todos os funcionários desacreditarem na existência de uma suposta alergia a nozes, além de culpabilizar Maria por tomar a bebida de uma outra funcionária — o que as câmeras de segurança comprovam, ainda que segundos antes o público tenha assistido à cena em que é Verity quem pratica a ação.
Por que Verity fez tudo isso?
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Nas cenas finais de “Bête Noire“, é revelado que Verity foi vítima de um boato criado por Maria na época da escola. Maria teria dito que Verity estava tendo relações com um dos professores, o Sr. Kendrick, na sala de computação, o que rapidamente se espalhou por toda a escola e rendeu uma apelido nada carinhoso para Verity.
Maria explicou que contou essa informação para outra colega da turma, Natalie, mas que tudo não passava de uma “piada” que foi repassada como se fosse verdade por toda a escola. E aqui está a chave desta história: Verity queria fazer com que Maria provasse do próprio veneno ao ser questionada por todos ao seu redor por uma coisa que ela sabia que era mentira, exatamente como Maria fez com ela no passado.
O fato de Maria não se lembrar por que começou o boato é doloroso para Verity, que buscou a felicidade em diferentes realidades alternativas, incluindo uma em que ela se casa com o cantor britânico Harry Styles e outra em que ela é a imperatriz do universo — o que ainda não foi possível de torná-la uma pessoa menos infeliz.
Maria foi a única vítima?
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Antes de se infiltrar no trabalho de Maria, Verity foi atrás de Natalie, a pessoa responsável por espalhar o boato criado por Maria para a escola inteira. Após cinco semanas sendo torturada pela ex-colega de escola, Natalie não aguentou e acabou morrendo.
Final explicado de “Bête Noire”
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Após concluir que Verity usa o próprio colar para alterar a realidade, Maria decide invadir a casa de Verity e confrontá-la. Após uma briga intensa, Verity aciona o controle remoto para criar uma realidade alternativa em que a polícia invadiu a residência e flagrou Maria com uma faca na mão, prestes a atacá-la.
No entanto, enquanto está sendo algemada, Maria pega a arma de um policial e atira contra Verity. Ela, então, assume o controle do colar da inimiga, usando a própria digital de Verity, e ordena que ele altere essa realidade para uma em que ela se torna a imperatriz do universo — um final inesperado e, no mínimo, divertido.
O roteiro original propunha um final um pouco mais sombrio. Maria foi escrita “para usar roupas quase fascistas na conclusão do episódio”, disse o criador da série, Charlie Brooker. No entanto, na versão finalizada, Maria assume um visual mais parecido com o de uma estrela pop. “É mais Game of Thrones. Um pouco de Beyoncé encontrando Khaleesi”, concluiu o showrunner.

A sétima temporada de “Black Mirror” está disponível na Netflix.